
A atuação do social sobre o corpo e a forma de vê-lo, de conceituá-lo é a grande marca da cultura sobre a materialidade humana. (Valéria Brandini). Ou seja, só não nos basta o corpo em si, precisamos cobri-lo de artefatos que o modifiquem, individualizem, passem alguma informação a mais para o mundo.
Estas características podem ser observadas desde muito antes de nossa era atual, mas focadas em um outro contexto, na Grécia antiga, por exemplo, as roupas tingidas eram sinal de classe social baixa, já as estampadas denotavam riqueza e poder. A roupa já transmitia informações sobre o indivíduo antes de qualquer outro meio.
Nos dias atuais existe uma maior variação nas opções e formas de "se mostrar" ao mundo como de determinado grupo, classe social e/ou estado emocional, dentre outros tantos significados que a vestimenta, a indumentária usada pode carregar. A aparência nos mostra o que é aleatório e ao mesmo tempo dá coerência a totalidade. É a relação do homem com o meio, em sua forma simbólica que pode ser lida na aparência, como descreve Valéria Brandini.
E esse termo "moda" hoje pode ser de fato usado, pois como sabemos moda vem de modo, mudança. Então moda é esta constante mudança do turbilhão de informações que o vestuário pode transmitir. Fato que em sociedades anteriores não se concebia pelo fato de que mudanças no vestuário praticamente não ocorriam, não eram significativas. Via de regra, as sociedades anteriores ao Renascimento.
E esse fenômeno "moda" instituiu um comércio que a todo instante se renova e digamos impões sua incorporação em nossas vidas, de maneira algumas vezes sutil, outras até mesmo discriminatórias; "se você não consome, você não se integra ao grupo". E esse tipo de comportamento é frequente num sistema onde quem tem mais pode mais ou em muitos casos "vale" mais.
A moda tem o poder de conceber a beleza sob a forma de um paradoxo: por um lado, a imagem do desejo, da sedução, da atração, do sexo e, por outro lado instrumento de poder das elites, das classes sociais superiores que a utilizam como signo de distinção, nem sempre esteticamente aprazível, mas sempre soberba, audaciosa, arrogante. (Valéria Brandini).
Temos o poder de mudar, construir um corpo na esperança e crença de sermos únicos, sendo que estamos todos fazendo parte de um mesmo fenômeno, a "moda", seja ela global, a de tribos ou grupos sociais, sempre estaremos vivendo dentro de algum parâmetro.
E sempre estamos nos construindo, agregando novos valores e substituindo outros, e muitas vezes somos vistos como mais um na multidão, quando para nós somos seres singulares e que possuímos algo diferente dos demais.
E principalmente na nossa pós-modernidade com culturas e valores aglutinados, o conceito de beleza pode ser múltiplo, variável. E cada vez mais a moda se afirma, as mudanças e a efemeridade se mostram, e o capitalismo sustenta e se nutre das novidades e re-novidades do consumo de produtos de moda.
O ser humano é um animal que vive em sociedade, precisa dela, mas está sempre se auto-afirmando individual, único, especial. A busca pela individualidade é inerente a humanidade, este é um paradoxo que cada dia se mostra mais real.
